Psicóloga defende diálogo para mudar o quadro no Brasil e quebrar tabu
Um estudo
desenvolvido pelo Ipsos em parceria com o Instituto Global para a Liderança
Feminina do King’s College London aponta que os brasileiros estão entre os que
mais acreditam que o homem que fica em casa para cuidar dos filhos é “menos
homem”. Apesar de todas as campanhas existentes em busca da igualdade de gênero
essa afirmativa mostra que em se tratando de paternidade ativa o assunto ainda
é um tabu para parte da sociedade brasileira.
A psicóloga do
Hapvida Danielle Azevedo explica que o homem não deve achar que o fato de
exercer a paternidade, de modo a compartilhar os cuidados com o filho e/ou os
afazeres domésticos o torna menos masculino. Para ela, o diálogo é o caminho
para essa quebra de tabu. “É possível promover uma nova postura acerca do papel
do pai dentro de uma família. Dialogar é sempre fundamental para que haja essa
reconstrução da figura paterna no seio familiar”, explica.
O estudo realizado
com 1.000 brasileiros, entre os dias 21 de dezembro de 2018 e 4 de janeiro de
2019 identificou que 26% acreditam nessa ideia de “menos homem”, opinião que
não difere entre homens e mulheres que participaram da pesquisa. Diante de tal
realidade a psicóloga afirma que culturalmente falando – de uma forma bem
generalizada –, o Brasil ainda possui uma cultura machista potencializada.
“Isso está muito relacionado a própria história, patenteado à família nuclear,
em que a mulher é vista como mãe, do lar e submissa. Já o homem, o pai é o
provedor, o que garante o sustento da família e responsável por pagar as
contas”, explica.
Apesar de existir
esse pilar voltado para cultura do machismo, Danielle Azevedo acredita que tudo
na vida é como o indivíduo se disponibiliza e se coloca no lugar do outro. “É
preciso entender que há arestas que precisam ser trabalhadas, pois em alguns
casos existe sempre a questão do que já foi experienciado por esse pai, há um
contexto machista e de referências e traumas que podem estar ligados a essa
questão dos cuidados, demonstração de carinho. Aí volto a afirmar que o diálogo
é a válvula que ajusta toda e qualquer dificuldade”, defende.
Estímulo a igualdade
de gênero – Transpor essa cultura machista é encontrar também um caminho
de múltiplos benefícios para criança, tanto do ponto de vista emocional como da
formação de um cidadão. Danielle acredita que a criança que tem os cuidados do
pai da mesma forma que os recebe da mãe será muito beneficiada. Para a
especialista, essa participação faz com que a criança entenda que os direitos
são iguais, que as participações podem ser compartilhadas de forma igualitária,
que será beneficiada por ambos (pai e mãe), que não vai existir essa
diferenciação de gênero dentro de casa com pai ou com a mãe porque um coloca-a
de castigo, enquanto o outro a beneficia com presentes.
Entretanto, a
psicóloga ressalta que para mudar essa realidade ainda existente de pais
distantes da rotina de cuidado dos filhos, o pai precisa querer assumir o
espaço que o pertence. “Impor o desejo de querer ocupar o espaço com os
cuidados com a criança é uma iniciativa que deve partir do pai, para que a
atividade não seja vista como uma obrigação, mas sim, para que ela seja
realizada com entrega, amor e leveza. Dessa forma, todos que compõe o ambiente
familiar acabam sendo beneficiados”, conclui.
Pesquisa – O
estudo citado na matéria foi divulgado no início do mês de maio e realizado em
27 países, com 18.800 entrevistados, sendo 1.000 brasileiros, entre os dias 21
de dezembro de 2018 e 4 de janeiro de 2019. A margem de erro é de 3,1 pontos
percentuais.
O Instituto Ipsos é a
terceira maior empresa de pesquisa e de inteligência de mercado do mundo.
Fundada na França em 1975, a Ipsos conta hoje com 16.000 funcionários e está
presente em 87 países, incluindo o Brasil.