WWW.EVALDONERES.COM.BR

Translate

Pesquisar este blog

Postagens Recentes

5/27/2019

Saúde mental de crianças e adolescentes que sofrem abusos



Psicóloga Alana Campelo explica os principais impactos na vida de crianças e adolescentes, sobre ajuda e tratamentos.




Celebrado anualmente no último dia 18 de maio, o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes reforçou o alerta aos pais quanto os cuidados com os filhos.

De acordo com dados da Secretaria de Direitos Humanos, é assustador o número de casos de violência sexual contra crianças e adolescentes no país. Por isso, foi criada esta data com o intuito de ajudar a combater este mal que destrói a vida de milhares de jovens todos os anos. Dados do Disque 100 apontam que, apenas em 2017, foram feitas mais de 84 mil denúncias desse tipo no serviço. No Piauí, 1130 denúncias em 2017 em 494 apenas no primeiro semestre de 2018.

Em entrevista exclusiva, a Psicóloga Alana Campelo pontua a necessidade de luta contra o Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes e os caminhos para se combater as consequências nefastas de um problema que ainda atinge o Brasil.

Qual o impacto que o abuso sexual pode causar nas crianças e adolescentes no âmbito psicológico?

- O que percebemos é que os problemas de saúde mental e social relacionados a violência sexual de crianças e adolescentes podem gerar consequências como ansiedade, transtornos depressivos, baixo desempenho na escola, alterações de memória, comportamento agressivo, violento e até tentativa de suicídio. E a gente percebe que esses sintomas manifestados em consequência do abuso sexual tem uma diferença em relação a faixa etária. Geralmente as crianças do ponto de vista pré-escolar sofrem com ansiedade, pesadelo, transtorno de estresse pós-traumático e comportamento sexual inadequado. As crianças partir dos 4 anos, que já tem uma vida escolar, manifestam medo, distúrbios neuróticos, agressão, pesadelos, dificuldades na escola, hiperatividade e comportamento regressivo. E quando passamos a observar do ponto de vista da adolescência é mais comum haver depressão, isolamento, comportamento suicida, comportamentos auto lesivos, queixas somáticas, fugas, abuso de substâncias e comportamento sexual inadequado. Porém alguns sintomas são comuns a essas três fases, que são sempre relacionados a questão dos pesadelos, comportamento melancólico, depressivo, retraimento, isolamento, agressão ou comportamento regressivo.

Como os pais podem identificar que algo está acontecendo com os filhos?

-Mudanças comportamentais são os principais indicativos que algo pode estar acontecendo. Vamos supor: se a criança que era alegre, afetuoso começa a se tornar retraída, tristonha, chorosa, irritada ou agressiva; se começa a ter pesadelos ou um sonho mais agitado, se começa a falar palavrões, fazer gestos obscenos, atitudes erotizadas impróprias para a sua idade,  ou demonstrar exagero em interesse por órgãos sexuais, se tiver uma diminuição brusca do rendimento escolar, significativo aumento ou diminuição do apetite, se mostrar uma aversão ou medo inexplicável em relação a determinadas pessoas ou gêneros e se recusar a ir em determinados lugares que ia, e gostava de ir.

Há características físicas também que devem são importantes observar como a criança ou adolescente que começa a apresentar coceiras ou vermelhidão nos órgãos genitais ou sujeira incomum nas roupas íntimas. Caso sejam verificadas situações como estas os pais ou responsáveis devem investigar, de maneira acolhedora e sem pressionar, perguntando informações do dia a dia, dando a criança ou ao adolescente a oportunidade de contar algo que possa ser identificado como abuso. Um ponto muito importante nesse acolhimento é acreditar no que foi relatado, para que a criança e adolescente se sinta protegido e para que possamos denunciar. Embora as crianças sejam criativas e fantasiem muitas coisas, apenas 6% dos casos os abusos são relatados como não-verdadeiros.

Como trabalhar a mente das crianças e adolescentes que sofreram abuso?

- Uma vez a violência já sendo instalada, o ideal é fazer acompanhamento psicológico tanto a criança quanto a família, até mesmo por se tratar de um processo muito doloroso, que tenta fazer a ressignificação de todo esse momento. Mas uma coisa que a gente sempre tenta estabelecer é que a palavra de ordem tem que ser a prevenção. Os pais devem sempre estar trabalhando, conversando com os filhos, orientando, ouvindo e acreditando neles por mais absurdo que estejam contando. Dispor de tempo para eles, saber com quem seu filho está ficando nos momentos de lazer, conhecer os colegas, pais de coleguinhas, estabelecer esse diálogo, falar com seu filho, lembrar que o abuso sexual pode ocorrer principalmente nos primeiros anos é muito importante. As veze a gente fica se perguntando: mas como posso estar estabelecendo esse diálogo? Podemos iniciar esse processo ensinando aos nossos filhos, aos 3 anos de idade, o nome das partes do corpo dele. A partir dos 3 e até os 5 anos explicar o que é privativo nele, que são aquelas partes cobertas pela roupa de banho. Aprender a dizer não, falar a diferença do que é o bom toque, do que é um mal toque. A partir dos 5 anos a criança deve ser sempre orientada sobre sua segurança pessoal e alertada sobre as principais situações de risco e após os oito anos já pode ser iniciada a discussão sobre os conceitos, regras de conduta sexual que são aceitas pela família e fatos básicos de reprodução humana. Eu acredito que a prevenção, o diálogo de você sempre estar colocando um ambiente acolhedor, receptivo favorece e ajuda nesse processo de prevenção.


Crime hediondo

Em maio de 2014 foi sancionada a lei que torna classifica como crime hediondo o crime de exploração sexual de criança, adolescente ou pessoa vulnerável. Quem for condenado pela prática também fica impedido de obter anistia, graça ou indulto. A legislação prevê para o condenado por esse crime uma pena de quatro a dez anos de detenção.

O “Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes” foi instituído a partir da aprovação da Lei Federal nº. 9.970/2000.

Como surgiu o Dia Nacional Contra o Abuso e Exploração Sexual Infantil.

A escolha desta data é em memória do “Caso Araceli”, um crime que chocou o país na época. Araceli Crespo era uma menina de apenas 8 anos de idade, que foi violada e violentamente assassinada em 18 de maio de 1973. Este crime, apesar de hediondo, ainda segue impune.

O Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes foi instituído oficialmente no país através da lei nº 9.970, de 17 de maio de 2000.

No Brasil, o Disque 100 é um serviço gratuito disponibilizado pela Secretaria dos Direitos Humanos da Presidência da República que registra denúncias anônimas de jovens que se sintam ameaçados ou que sofreram qualquer tipo de abuso ou exploração sexual.



Fonte: AI Comunicações